sábado, 22 de maio de 2010

Meu Tio

Antes de qualquer coisa, quero deixar claro que meu tio não é maluco; é lúcido, tem uma conversa agradável e muitos amigos. É apenas excêntrico. Quando era jovem, apaixonou-se por uma bela moça e ficaram noivos. Comprou uma casa e tudo transcorria entre arrulhos, até que ele deu carta branca para que ela escolhesse os móveis. A cada dia ele se mostrava mais fechado e em poucos dias procurou os pais na noiva e simplesmente desfez o noivado, sem mais nem menos. Noiva desesperada, famílias atarantadas, quando ele foi práticamente forçado a explicar que ela estava exageradamente interessada em luxo antes do casamento, imaginassem depois; e que portanto, o capítulo casamento, no que lhe concernia, estava encerrado para sempre. E assim foi. Dizem as más linguas que desde então ele recebe moças discretas, que vão à sua casa "prestar-lhe favores"e que entram e saem à noite, sendo substituídas regularmente, para evitar apego de qualquer das partes. Certamente ele achou esse arranjo mais coerente. É hoje um homem com mais de setenta anos, mas conserva intacta embora totalmente branca a sua bela cabeleira leonina e olhos verdes amendoados. Um dia meu tio resolveu abrir um bar, que funcionou muito bem até que num de seus repentes resolveu fechá-lo. Mas esbarrou com a burocracia que exigia o pagamento de uma taxa para isso. Decidiu que não era justo e até hoje, mais de dez anos depois, mantém o bar aberto mas não vende nada, apenas recebe os amigos para conversar. Diz que morre antes de pagar a tal taxa. Ele tem um cômodo na sua casa, repleto de caixas de creme dental, já secos dentro das embalagens. Não adianta perguntar, que ele não conta para que os guarda. Primos brincam que seriam a única salvação numa possível hecatombe nuclear (rsrsrsrsrs...). Tenho muito mais a contar sobre ele, mas não gostaria que o classificassem como desequilibrado, porque estranhamente (???) eu o compreendo e temos uma grande afinidade. Até a próxima. Beijos.

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