sábado, 24 de julho de 2010

O Mistério das Freiras Escorraçadas

Um fato me intriga desde que eu era criança (não vale nenhuma piada sobre idade, porque sim, eu já fui criança). Entrei no colégio interno aos sete anos, como era de praxe; não ir para o colégio interno, mas pela idade, entenda-se. Era um colégio de freiras, onde estudavam as crianças cujos pais desejavam uma educação mais apurada para as filhas, pois falávamos, rezávamos e cantávamos em português e francês, além de aulas de etiqueta, instrumentos musicais, pintura, etc., etc. Nessa época eu era a mais jovem do colégio e a menor em estatura, daí naturalmente virar a mascote do colégio. Eu chamava as irmãs de "tias" quando esse era apenas um tratamento de parentesco, elas e as meninas mais velhas me colocavam no colo e me chamavam de Martinha. Eu adorava o colégio e as irmãs. Em determinadas férias de final de ano, fui para a fazenda e quando retornei , não encontrei nenhuma das minhas queridas irmãs. Quando minha mãe questionou, disseram que a direção resolvera transferí-las e como se tratava de normas internas, ninguém tinha permissão para falar sobre o assunto. Isso era totalmente inusitado e incompreensível. Logo ficamos sabendo que um dia, de repente, chegaram à cidade algumas personalidades eclesiásticas e todas as freiras substitutas. Durante a missa, o Bispo, sem explicar a razão, teria pedido às senhoras da cidade para trazerem ao colégio roupas e lenços de cabeça ( as irmãs usavam hábitos fechados e raspavam a cabeça), alegando que elas teriam que sair do colégio em trajes normais, e que, inclusive, as pessoas deveriam abrigá-las até que elas pudessem resolver onde ir. Minha mãe conversou com pessoas que recolheram algumas delas e essas pessoas disseram que as irmãs choravam muito, mas se recusavam a dizer o que havia acontecido. Até hoje eu me questiono: o que elas poderiam ter feito de tão grave, que ninguém percebeu? Por que mereceram uma punição tão severa, como a expulsão?