domingo, 3 de dezembro de 2023

A Melhor Idade? Para quem?


 

Ando procurando os felizes detentores da "melhor idade" e até agora, escavando a superfície sempre descubro que atrás daquele sorriso encomendado existe uma pessoa triste, frágil e com medo. Pessoas jovens tentam nos empurrar goela abaixo uma idéia de felicidade numa situação que eles desconhecem. O que existe de bom na invisibilidade do velho? Nas dores sempre existentes? Na fraqueza de nossos músculos que antes nos permitiam carregar os filhos nas costas e hoje não são mais capazes de carregar nossos netos e tornam difícil carregar o próprio corpo. Qual a alegria de nos olhar no espelho e não mais reconhecermos a nossa face? De sentir a deterioração diária de nosso corpo apresentando situações inesperadas e constrangedoras com as quais não contávamos antes? E ainda exigem de nós uma alegria forçada e atitudes que não condizem com nossa capacidade: "vá viajar, faça academia, dance, sorria, seja feliz!" Ah, como eu queria ter o dom de passar para esses "coaches" da melhor idade as nossas dores físicas e mentais por apenas um dia! E o pior de tudo isso é conviver a cada segundo com a morte nos espreitando, sabendo que ela está perto e nunca poderemos prever de que forma e em qual momento ela nos atingirá. A morte chega para todos, mas o jovem tem a ilusão de que ela só chegará muito mais tarde e quando chegam a pensar sobre o assunto imaginam um quadro romântico com uma pessoa de cabelos brancos cercada de filhos e netos, que docemente fechará os olhos para sempre, sem nenhum sofrimento. Mas nós sabemos que quase nunca é assim, infelizmente. Uma coisa posso afirmar, não existe essa falácia da melhor idade.