quarta-feira, 16 de junho de 2010

Cantadas de Pedreiros

A cada dia ficam mais escassas as famosas cantadas de pedreiros. Os peões de obra faziam verdadeiras terapias, aumentando a auto-estima das mulheres, que em sua maioria faziam de conta que não estavam ouvindo, mas quando eles não estavam mais vendo, exibiam um sorriso maroto, pois além de engraçadas, as cantadas eram distribuídas generosamente, mesmo para aquelas menos favorecidas. Lembro-me que um dia, uma amiga chegou em minha casa genuinamente triste, achando-se horrorosa, porque passara frente a uma obra e não ouvira nem mesmo um assovio. Tive que explicar-lhe que algum fato extraordinário devia estar acontecendo quando ela passou, porque se assim não fosse, jamais ela passaria imune. Hoje um fato sociológico vem fazendo com que o papel dos pedreiros esteja se transferindo para os garis dos caminhões de coleta de lixo. Acho que as leis do trabalho com seus tapumes e equipamentos de segurança, estão isolando os "poetas" das suas "musas". Assumem aqueles que antes eram calados, mas não sei através de qual arranjo ou código secreto, receberam a sublime missão de continuar o trabalho abnegado de seus machos companheiros. Aconselho a quem tem sentido falta de uma boa cantada cafajeste, nem que seja para dar uma risada, que deixe seu carro e passe displicentemente perto de um caminhão de lixo. Eles ainda não estão muito afiados, mas há que se considerar que estão começando agora e dar-lhes um desconto...Rsrsrsrsrsrs...

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Prato Orgásmico

Considero prato orgásmico aquele que você começa dizendo"ai meu Deus!"na primeira garfada e continua gemendo até acabar de comer. No momento tenho três pratos nessa categoria, e, acho que não por acaso, todos à base de camarão; o primeiro é camarão com arroz, queijo brie e damasco, servido no Cantinella, uma combinação perfeita de sabores. No Bambina, para quem adora alho, o Camarão à Provençal é uma coisa! Aliás, todos os pratos ali são ótimos. Depois, no restaurante Flor de Sal, há o imperdível Camarão Tropical (faz até rima), com leite de côco e capim-santo, que é uma viagem dos sentidos. Se você resolver experimentar qualquer desses pratos, só devo dar um conselho: controle-se, para não escandalizar as outras pessoas presentes. Rsrsrsrsrsrsrsrs...Quero deixar claro que esse "merchandising" é gratuito; são apenas dicas para meus amigos que gostam de usufruir dessa delícia da vida, que é comer bem. "Bon apetit!"

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Folia de Reis Fantasma

Eu me lembro assim e minha mãe confirma. Lá pelos meus cinco ou seis anos, quando morávamos numa fazenda no fim do mundo, aconteceu um fato que até hoje me intriga. Não tínhamos vizinhos muito próximos e havia um caseiro chamado Alvino, que vivia numa casa construída numa clareira atrás da nossa. Havia uma estradinha que ladeava a nossa casa, atravessava uma pequena ponte e saía em frente à dele. Sendo assim, o único acesso era através da nossa, e só havia uma estrada para chegar à fazenda. Minha família era presbiteriana, portanto, na época de Reis, os Grupos de Folia não nos visitavam. Um dia, meu pai e Alvino viajaram para algum negócio, e ficamos na casa principal minha mãe e eu, e na outra, a esposa dele Vanda (que ajudava nos serviços domésticos) e o filhinho pequeno. Nessa noite específica, havíamos acabado de nos recolher, quando começamos a ouvir o barulho de uma Folia de Reis que se aproximava. Até hoje a cantoria, o toque dos instrumentos, o barulho dos cavalos, são nítidos em minha mente. Minha mãe se apavorou porque todos sabiam que éramos "crentes", meu pai não estava em casa e ela não estava preparada para servir comida e bebida para uma Folia que parecia ser grande. Eu, curiosa como toda criança, queria abrir a janela para vê-los e minha mãe impediu, argumentando que assim teríamos que deixá-los entrar. Nisso ela ficou aliviada, pois eles não pararam e seguiram a estradinha lateral, em direção à outra casa, o que era estranho, embora eles fossem católicos. Passados alguns minutos fez-se um silêncio repentino e logo depois a Vanda começou a esmurrar a nossa porta pedindo pelo amor de Deus que minha mãe abrisse a porta. Lembro-me como se tivesse acontecido ontem, dela entrar correndo com o filho no colo, pele totalmente pálida e de olhos assustados. Pediu que minha mãe fechasse a porta depressa e com a voz estrangulada de medo disse que ouviu o mesmo que nós e estranhou que fossem à nossa casa; depois percebeu que tomavam a direção de sua casa e ficou preocupada por não poder recebê-los com as devidas regalias. Mesmo assim, quando pararam no pátio da frente, achou que devia oferecer pelo menos um café. Estavam cantando e tocando quando ela abriu a porta. Mas não havia nada nem ninguém, apenas o luar e o silêncio.