quinta-feira, 17 de maio de 2012

Distraída

Meu marido e eu fomos convidados a jogar cartas na casa de um casal de amigos. Tenho o hábito de tirar os sapatos disfarçadamente, todas as vezes que me sento ao redor de uma mesa. Quando vou me levantar volto a calçá-los sem que ninguém perceba, sem usar as mãos. Com meu marido à esquerda e o dono da casa à minha direita, começamos o jogo. Tudo corria muito bem, até que no final as coisas começaram a ficar esquisitas. Em primeiro lugar, eu não conseguia localizar o sapato da direita. Fui tateando com o pé e não encontrava o fugitivo. Finalmente achei! Mas ele parecia estar virado para baixo, porque era impossível calçá-lo. Usava os dedos dos pé tentando desvirá-lo, mas ele parecia colado ao chão. Eu já estava quase ofegante, quando percebi um silêncio constrangedor. Meu marido me olhava assustado, a dona da casa parecia querer me matar com os olhos e o pobre do marido tinha uma expressão desesperada. Quando vi para onde ele olhava, juro que me mataria se houvesse alguma arma disponível; a mesa era de vidro(eu não havia notado esse pequeno detalhe), meu outro sapato estava embaixo da cadeira. E eu, simplesmente estava com o pé descalço em cima do sapato do pobre coitado, fazendo movimentos em todos os sentidos. Tentei explicar, mas ...

segunda-feira, 14 de maio de 2012

LIMITES

Ela me falou que a cada vez que tenta se aproximar ele a afasta bruscamente e a faz recuar. Na sua espontaneidade meio infantil ela tem medo de voltar a ultrapassar aquele limite, então constrói ali uma cerca de arame, para poder se lembrar. E tenta outra abordagem, mais uma cerca de arame. Atualmente já existem dez cercas entre os dois e ela me confidenciou tristemente, que no início olhava-o nos olhos, depois teve que esticar o pescoço; agora, já tem que ficar na ponta dos pés para vê-lo. Tem medo que um dia não consiga enxergá-lo mais, tamanha a distância. Ou que, de tanto andar de costas, um dia caia nos braços de alguém mais desarmado.

                                                                                                                              

terça-feira, 8 de maio de 2012

Momento de Tristeza

Hoje fiquei triste. Quando acordei, me lembrei que quando meu marido estava internado no hospital psiquiátrico, acontecia de às vezes ele ficar calmo logo de manhã, então pedia ao enfermeiro para telefonar para mim. Eu atendia e ele começava me dizendo que estava no aeroporto, que tomaria um taxi e logo chegaria em casa. Eu perguntava de onde ele vinha e ele sempre dizia Brasília ou Cuiabá. Aí começava a contar dos amigos que tinha encontrado, das coisas que tinha feito, ia se perdendo cada vez mais em suas fantasias, de repente se calava e soltava o telefone. Voltava para um mundo onde eu não existia.