terça-feira, 19 de julho de 2011

MARTINHA

Sou levada a crer que a pintura usada para ilustrar esse texto foi por acaso feita por alguém que me conheceu, ou existiu por aí uma outra Martinha, que se dedicava às mesmas "artes". Aos sete anos meus pais internaram-me num colégio de freiras, porque era e creio que ainda é, um dos mais completos estabelecimentos de ensino. Lá falávamos dois idiomas: o francês e o português.Cantávamos o Hino Nacional Brasileiro e a Marselheise. Rezávamos nos dois idiomas e chamávamos a madre superiora de "ma mère". Eu amava o colégio e as irmãs. Todos me chamavam de Martinha, porque era a caçula do colégio e creio que tenho jeito de Martinha, porque hoje, mesmo sendo alta e já bem longe da infância, as pessoas quando me conhecem logo começam a me chamar assim. Pois bem, embora amasse as irmãs, sempre procurei uma forma de me divertir, o que as deixava em polvorosa, mas sempre para me repreender me colocavam no colo e quando eu lhes alisava o rosto e encostava a cabeça no ombro delas, se derretiam e abrandavam as repreensões. Às vezes eu até ganhava balas, para deixar de aprontar. Mas vamos ao quadro. A irmã Catarina, jovem e bela, pelo que me lembro, era encarregada de nos levar ao dentista. No início, sabendo da minha diversão predileta, antes de sair, ela tinha uma conversa séria comigo. E lá íamos nós duas. Chegando ao consultório, ela sentava-se numa cadeira e me colocavam na cadeira do dentista. Eu ficava bem quietinha e dócil, para não despertar desconfiança. No momento em que o prifissional ia pegar os instrumentos, me levantava com a rapidez de um raio e saia correndo rua afora. A pobre da irmã, atrapalhada com muitas saias compridas e véus, saía correndo desesperada atrás de mim e eu usufruía o melhor da escapada; de vez em quando olhar para e ver o véu voando no ar e o rosto dela totalmente vermelho, não sei se pela vergonha ou pelo esforço, ou pelos dois. Eu corria dando voltas mas sempre voltava ao colégio, para a pobre irmã descansar. Afinal eu a amava! Depois de recuperar o fôlego e tomar um copo d'agua, era a hora de contar o fato para a madre. Infelizmente só consegui escapar apenas três vezes, porque deixaram de confiar em mim e passaram a trancar a porta. Mas foi bom enquanto durou e logo eu arranjei uma nova forma de diversão. Depois eu conto. Só vou adiantar que muitos anos depois, quando minha prima foi ser matriculada e viram o sobrenome Costa Vale, perguntaram a ela o seu grau de parentesco com a terrível da Martinha.







sexta-feira, 1 de julho de 2011

EU E MEU EGO

Um gatinho que olha no espelho e se vê um leão. É a imagem perfeita de mim. Eu me amo tanto, que antes de tomar banho faço questão de ficar nua por algum tempo, me olhando no espelho e me admirando, me achando a mulher mais bela do mundo. Quanto mais me olho, mais agradeço à natureza por ter tido tanto capricho. Certo que alguém diria que meus pés são feios, mas eu discordo, porque só o fato deles existirem e me levarem a todos os lugares já os torna lindos. Quando acabo a sessão de auto-admiração externa, entro para o chuveiro e com os gestos automáticos de higiene, olho para dentro de mim e conheço o encantamento: também sou linda por dentro. Aí podem pensar que sou arrogante. Sabem porque acho que não? Porque meus olhos possuem um filtro que faz com que todas as pessoas de que gosto se tornem bonitas físicamente. Se elas são bonitas, eu, que sou a pessoa que mais me ama, naturalmente serei a mais bela. Quanto ao aspecto interior, mais fácil ainda. Quem se conhece mais que a própria pessoa? Eu sei que sou uma pessoa totalmente do bem e tento me aperfeiçoar a cada dia. Tenho ou não o direito de me considerar maravilhosa?

A propósito, seja você quem estiver lendo este texto, saiba que EU TE AMO.

DO PÓ VIESTES...

Quando eu morrer, desejo ser cremada. Que minhas cinzas sejam oferecidas a um rio de águas límpidas, às árvores e ao vento.

Estarei em nenhum lugar e em todos eles, pois estarei integrada à natureza, que tanto amo.

As pessoas que procurarem, me encontrarão em seus corações e na brisa que os acaricia...