quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Mulher Serena

Há tempos não sou mais feliz. Fui por alguns meses, quando achei ter encontrado a pessoa certa. Tristemente fui percebendo o esmaecimento de tudo. Um dia sumiu isso, no outro aquilo, eu sabia que era questão de tempo (e pouco)  em que tudo desapareceria. Aguardei o fim, torcendo para que a situação se revertesse e nós tivéssemos a chance de construir um futuro juntos. Mas a cada dia ficava mais óbvio que falávamos e sentíamos diferente, não havia a menor possibilidade de comunhão. Como diz determinado livro, ele era de Marte e eu de Vênus. Depois que vi isso com clareza, apenas aguardei. Nesses dias de espera voltei-me para mim, preparando o novo luto para que não fosse traumático e que eu estivesse pronta para a possibilidade de viver só quando acontecesse o desfecho. Consegui. Hoje não posso dizer que sou feliz, porque acho que só o somos aos pares. Mas estou absolutamente serena.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Mulher Feliz

O que faz uma mulher feliz? Falo daquela que desce uma escada quase bailando, que tem sempre um brilho de malícia nos olhos, que ri por qualquer bobagem, que cantarola enquanto realiza coisas simples e corriqueiras. Que acorda radiante, com todas as possibilidades de um novo dia. Para isso essa mulher precisa de um amor, é ponto obrigatório. Alguém para andar de mãos dadas,  para trocar palavras e toques maliciosos, que ame seu gosto e seu cheiro, que não consiga ficar um dia sem vê-la ou ouvir sua voz. Que o sexo seja constante, que ele goste de tocá-la e beijar na boca. Que saiba que é amada ao ponto dele considerá-la a mulher mais bela do mundo. Uma mulher pode ser serena, tranquila, alegre, pelas mais diversas razões. Mas para ser feliz, feliz de verdade, precisa do homem certo. Então todos à sua volta perceberão o seu brilho.

domingo, 19 de agosto de 2012

Procriação

Você já reparou que a cada dia aumenta o número de mães e avós que cuidam sozinhas de suas crianças sem a assistência paterna? Por que os homens fazem filhos a torto e a direito e não assumem suas responsabilidades? Por que as mulheres aceitam isso e continuam fazendo filhos como se fossem animais que entram no cio, cruzam e emprenham?  Houve um tempo em que o homem tinha consciência de que era o provedor da família, que era exemplo para seus filhos e tinha vergonha de não ser capaz disso. Um homem que deixava sua família passar necessidades não merecia o respeito da sociedade. Com a dissolução dos costumes, regredimos um passo na evolução, passamos a um estágio puramente animal, anterior ao homem das cavernas. Agora somos apenas instinto; o homem em geral age apenas no sentido de espalhar a sua "semente", mostrar sua masculinidade através da barriga de uma mulher prenhe, já que ainda não pode sair por aí mostrando seu membro ereto e fazendo sexo no meio da rua. Já a mulher faz sexo sem critério pensando que sexo e gravidez lhe trarão amor e proteção. Mas o que acontece no final dessa fornicação generalizada? Os homens já não têm o dever de conviver com os filhos, que não foram gerados dentro de uma relação estável e amorosa. O amor que decorreria dessa situação é fraco ou inexistente, porque ele não acompanhou a gestação com seus problemas e suas alegrias, não ajudou a cuidar da criança, não trocou fraldas nem saiu correndo à noite atrás de um médico ou uma farmácia, não viu o primeiro sorriso nem ouviu a primeira palavra. Não amparou nos seus primeiros passos, não participou de suas brincadeiras, não a consolou nas primeiras decepções, não vibrou com suas primeiras vitórias. Então assim fica fácil virar as costas e partir. Por que as mulheres e as avós cuidam desse exército de crianças sem pai? Por causa do instinto maternal que nasce com elas e difícilmente as abandona, mesmo que tenham perdido o bom senso, o respeito e a inteligência.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

O Tempo

Indiscutível. O tempo resolve todas as questões. Tudo que parece insolúvel, toda dor desesperada, toda falta de perspectiva, toda vida destroçada. Nada permanece intocado na passagem do tempo, nem mesmo o maior sofrimento. Por isso confie e espere por aquilo que parece impossível. Um dia eu estava presa no fundo de um poço, com uma pedra enorme impedindo a saída. Não via nenhuma luz, as paredes eram totalmente lisas e escorregadias, não tinha mais forças nem tinha armas para lutar e desisti. Encolhida em um canto esperei a morte e ansiei por sua vinda. De repente uma força descomunal retirou a pedra da entrada e a mim de dentro da prisão. Pelo tempo necessário para me recompor, permaneci parada, apenas admirando a beleza do mundo, de cores tão belas e vívidas como eu sequer imaginava. De início não acreditava no milagre e temia ser atirada de volta a qualquer momento. Mas o tempo passou,  me levantei, descobri uma força interior maior do que que antes e não temo mais os  buracos. Aprendi bastante para saber evitá-los. E o mais importante, readquiri a fé.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Distraída

Meu marido e eu fomos convidados a jogar cartas na casa de um casal de amigos. Tenho o hábito de tirar os sapatos disfarçadamente, todas as vezes que me sento ao redor de uma mesa. Quando vou me levantar volto a calçá-los sem que ninguém perceba, sem usar as mãos. Com meu marido à esquerda e o dono da casa à minha direita, começamos o jogo. Tudo corria muito bem, até que no final as coisas começaram a ficar esquisitas. Em primeiro lugar, eu não conseguia localizar o sapato da direita. Fui tateando com o pé e não encontrava o fugitivo. Finalmente achei! Mas ele parecia estar virado para baixo, porque era impossível calçá-lo. Usava os dedos dos pé tentando desvirá-lo, mas ele parecia colado ao chão. Eu já estava quase ofegante, quando percebi um silêncio constrangedor. Meu marido me olhava assustado, a dona da casa parecia querer me matar com os olhos e o pobre do marido tinha uma expressão desesperada. Quando vi para onde ele olhava, juro que me mataria se houvesse alguma arma disponível; a mesa era de vidro(eu não havia notado esse pequeno detalhe), meu outro sapato estava embaixo da cadeira. E eu, simplesmente estava com o pé descalço em cima do sapato do pobre coitado, fazendo movimentos em todos os sentidos. Tentei explicar, mas ...

segunda-feira, 14 de maio de 2012

LIMITES

Ela me falou que a cada vez que tenta se aproximar ele a afasta bruscamente e a faz recuar. Na sua espontaneidade meio infantil ela tem medo de voltar a ultrapassar aquele limite, então constrói ali uma cerca de arame, para poder se lembrar. E tenta outra abordagem, mais uma cerca de arame. Atualmente já existem dez cercas entre os dois e ela me confidenciou tristemente, que no início olhava-o nos olhos, depois teve que esticar o pescoço; agora, já tem que ficar na ponta dos pés para vê-lo. Tem medo que um dia não consiga enxergá-lo mais, tamanha a distância. Ou que, de tanto andar de costas, um dia caia nos braços de alguém mais desarmado.

                                                                                                                              

terça-feira, 8 de maio de 2012

Momento de Tristeza

Hoje fiquei triste. Quando acordei, me lembrei que quando meu marido estava internado no hospital psiquiátrico, acontecia de às vezes ele ficar calmo logo de manhã, então pedia ao enfermeiro para telefonar para mim. Eu atendia e ele começava me dizendo que estava no aeroporto, que tomaria um taxi e logo chegaria em casa. Eu perguntava de onde ele vinha e ele sempre dizia Brasília ou Cuiabá. Aí começava a contar dos amigos que tinha encontrado, das coisas que tinha feito, ia se perdendo cada vez mais em suas fantasias, de repente se calava e soltava o telefone. Voltava para um mundo onde eu não existia.

domingo, 29 de abril de 2012

Prisioneira

-Cala a boca, menina! Você não pode sair falando tudo que pensa.
-Pára de chorar! Só se chora escondido. Lágrimas incomodam as pessoas.
-O que é isso? Controle-se. Você não pode fazer o que tem vontade.
A menina torna-se mulher, uma mulher amordaçada, manietada. Não sabe se pode dizer "eu te amo", se pode perguntar quando tem dúvida, se pode brigar quando se irrita.
Reprime as lágrimas de dor, para que não explodam em uivos dilacerantes e incomodem alguém.
Aperta com força as mãos e os lábios, para não correr o risco de abraçar ou beijar aqueles que ama.
O seu exterior transforma-se em estátua, totalmente paralisada. Mas se um desavisado olhar nos seus olhos, verá lá dentro uma criança aprisionada, com as mãos dilaceradas de tanto arranhar a própria casca.

quinta-feira, 29 de março de 2012

PAZ

Sempre fui muito ligada à natureza, principalmente a três elementos: água, pedra e árvore. O contato com eles e algum tempo de solidão reativam todos os meus instintos, que por sua vez me conduzem à razão, à clareza de visão, à compreensão dos fatos. Eu preciso disso, ou não sobrevivo. Senti que já havia passado tempo demais no asfalto e cimento, perdida em meus pesares e parti sózinha para um lugar chamado Chapada dos Veadeiros, na cidade adequadamente chamada Alto Paraíso, no estado de Goiás. Durante uma semana convivi com pássaros, flores, animais silvestres, pedras, árvores, rios e cachoeiras. E um céu que ao amanhecer e entardecer enchia-se de pinceladas das mais belas e variadas cores. Durante a noite havia vagalumes, uma sinfonia de sapos e grilos, e milhões de estrelas visíveis. E a pureza do ar, o cheiro de mato?
Enquanto tirava o máximo do meu corpo em longas e ásperas caminhadas, ou simplesmente me deixava ficar quieta apenas pensando e sentindo, eu repensava minha vida e os últimos acontecimentos. Retornei ao útero da Mãe Natureza, renasci feliz e serena.





sexta-feira, 2 de março de 2012

Zumbis

Pronto, desfeito o mistério. Já sei por que não posso me expor sem que me arranquem um pedaço do coração. Estou cercada de zumbis, pessoas que já não pensam, não sentem, não vivem mais. Ao contrário do que eu pensava, EU ESTOU VIVA. Agora entendo porque me detectam tão rápido e passam imediatamente ao ataque; sou carne fresca, não há nada de errado comigo. Já sei como agir daqui por diante; agir como nos filmes, que são uma metáfora do que acontece na realidade. Devo em primeiro lugar, ficar escondida e não fazer barulho; quando tiver que sair, não falar nada que faça sentido, apenas grunhir; apagar o brilho dos olhos e o sorriso; não ajudar ninguém que cair; andar aparentemente sem destino. Isso até que eu consiga localizar alguém igual a mim, mesmo que para isso eu tenha que viajar para outros lugares ou outros países. Agora que descobri o segredo, tudo fica mais fácil. Ser vivo, pensante e verdadeiro é muito perigoso, eles sentem o cheiro de sangue e atacam.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Imcompreensível Mundo

O que acontece com as pessoas? Quando tenho dúvidas, pergunto, não julgo. Talvez porque como diz o ditado, as pessoas julgam de acordo com o próprio comportamento. Dias atrás, recebi troco a mais e como é normal, ou deveria, voltei à caixa e disse que havia um erro. A moça perdeu o sorriso, ficou agressiva e disse que ela jamais errava. Quando eu disse a ela que dessa vez ela havia se enganado e que eu havia recebido dez reais a mais, ela nem mesmo me pediu desculpas ou agradeceu. Recentemente, cansada dos sofrimentos ocasionados por determinada rede social, fechei a minha página. Pensam que ficou por isso? Tenho recebido emails de pessoas ofendidas, porque eu as teria bloqueado. Quando tentam entrar e não conseguem, não pensam que eu preferi me retirar, nem mesmo aventam a hipótese de meu sofrimento, ninguém me pergunta o que aconteceu, se estou bem. Tratam de juntar suas pedras e atirar. Que desesperança, que tristeza! O que fazer para receber na mesma moeda com que pago?

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

DESCRENÇA



Nesse momento eu adoraria e esperava escrever coisas alegres e agradáveis. Mas infelizmente mais uma vez estou doente de tristeza e descrença. Eu devo ser anormal, Eu não entendo o mundo. As pessoas perderam o altruísmo, o respeito pelos outros e nem sabem mais distinguir a pedra falsa da genuína. Antes de morrer, meu marido me disse que gostaria de poder voltar no tempo e mudar o seu comportamento, porque tinha vivido tanto tempo com um diamante pensando que era vidro. O fato é que hoje, a maioria das pessoas anda tão entorpecida, que não entende a autenticidade, a integridade de caráter, a lealdade, a pureza de intenções. Só falam e entendem a linguagem do rancor, da mentira, do que é pequeno. Quem é diferente vai sendo e se sentido excluído do mundo, porque não encontra reciprocidade. E paradoxalmente nunca se falou tanto em Deus e Jesus. Mas onde escondem o "amai-vos uns aos outros" se não amam nem a si mesmos?

domingo, 15 de janeiro de 2012

A Verdade Nua e Crua


Faço questão de contar que sou desequilibrada mental e como o sou. Não tenho nada a perder. Ainda tenho um rasgo de esperança de que eu possa me curar. Enfim, sou a contradição em pessoa. Muito inteligente, tive um desenvolvimento intelectual significativo. Mas emocionalmente eu parei na primeira infância. Sou uma mulher madura, com um coração de criancinha. Às vezes chupo o dedo, às vezes durmo com o bumbum pra cima, quando sofro fico em posição fetal. Me envergonho disso, porque soa ridículo para uma mulher da minha idade, mas não escolhi isso. Daí ter como amigas apenas algumas mulheres especiais que "enxergam" a criança. A maioria vê uma mulher bonita, inteligente, relativamente culta, sensual, enfim, alguém de quem é melhor manter distância e não convidar para suas casas. Ainda mais depois que fiquei sózinha. Mal sabem elas que eu jamais me aproximaria de seus maridos, porque tenho um rígido código de ética. Animais e crianças gostam muito de mim. Agora os homens. Ah, os homens!!! A garotinha tem medo do mundo, tem medo até de caixas eletrônicos, não dirige, não viaja sózinha, se sente perdida sem alguém que a proteja. Mas eles só querem a mulher sensual, exuberante, brincalhona. Só querem o bônus. Ninguém quer lidar, nem mesmo crer, que existe a criança. Que não sabe brigar nem gritar nem agredir, que reage às grosserias e às incompreensões apenas chorando. Vivo tentando curar os "dodóis" dos outros, mas não posso mostrar os meus. Não sei mentir nem dissimular; quando alguma coisa me incomoda, falo claramente. Quando não entendo pergunto por que. Na minha cabeça isso esclareceria as coisas e evitaria brigas, mas não é o que acontece. Os homens ficam nervosos e me dizem que vivo procurando confusão, quando pergunto por exemplo, porque foi viajar e não me convidou. Bastaria me dizer qualquer coisa que eu aceitaria, sem discussões, só não gosto de ficar criando monstros inexistentes na minha imaginação, pensando que vou ser abandonada a qualquer momento, sem explicação. Como as criancinhas para quem as mães explicam que têm que sair para trabalhar, mas que depois voltam. É só isso que espero. Embora seja generosa, compreensiva, carinhosa, os homens que encontrei não estavam dispostos a me entender e me ajudar a crescer. Faço análise, mas é um processo lento de cura e com a ajuda de alguém que entendesse que adoro sentar no colo não por sensualidade mas por carência, certamente seria bem mais rápido. Minha analista diz que só um homem maduro e sereno poderia me ajudar. Mas não tenho esperanças, seria como encontrar agulha em um palheiro e é improvável que eu e esse homem especial nos encontremos um dia. E o tempo passa tão rápido...