domingo, 24 de fevereiro de 2013

Árvore Antiga

Nós somos como árvores. Quando jovens nosso tronco é resistente, maleável, sadio e estamos ainda sujeitos a mudanças. Por isso nossas raízes são ocultas e mais rasas. Com o crescimento e a altura, essas raízes se aprofundam para que qualquer tempestade não nos derrube. Aí começa a nossa ligação mais intensa com nosso solo. Quanto mais velhos ficamos, sabemos que nosso tronco se enfraquece, estamos mais sujeitos ao ataque de pragas, então temos necessidade de criar mais liames, de lançar mais âncoras e então lançamos mais raízes que agora saem de todo nosso corpo. Até aceitamos algumas trepadeiras, que embora se alimentem de nossa seiva, nos mantêm mais firmes. Mas aí teremos perdido nossa liberdade, não podemos mais ser transmutados. Impossível agora cortar tantos laços e sobreviver.

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Procura de Conhecimento

Nasci com uma gana absurda de conhecimento. Tanto que aos tres anos eu já sabia ler e escrever, enquanto não sabia ainda falar muito bem. Minha tia Neves conta que se divertia mandando que eu lesse textos com palavras que eu ainda não conseguia pronunciar bem. Mas quando eu chegava nas palavras "pegadinha", lia, olhava para ela sériamente e dizia: "Eu sei que não falei certo." A minha sede por leitura era tão grande, que minha mãe ficava irritada, porque eu preferia ler a brincar e muitas vezes me escondia no quintal ou atrás da casa com pedaços de jornal, folhas de revista, que às vezes só traziam propagandas, mas que eu recolhia do chão e escondia como tesouros, para ler assim que estivesse sozinha. Tio Moacir era meu companheiro predileto, porque tinha paixão por livros e passávamos horas naquele quarto abarrotado, sem trocar uma palavra, cada um perdido no seu mundo particular. Muitas vezes minha avó Amélia percebia que já estávamos quase lendo no escuro, vinha e silenciosamente acendia a luz. Para nós naquelas horas, não havia sede nem fome, nos alimentávamos de leitura. No colégio eu acredito que li todos os livros da biblioteca. Depois eu lia os livros das bibliotecas públicas. Aí comecei a comprar livros e quando eles se espalhavam por todos os cômodos da casa, eu doava, deixando apenas os chamados livros de cabeceira", que no meu caso não há cabeceira que caiba tantos. Por que estou contando isso? Porque um dia, muito recentemente, percebi que a leitura trouxe incontáveis ganhos e muito prazer, mas enfiada de cabeça nessa paixão me afastei muito do mundo real. Agora quero entrar de cabeça na vida e colocar em prática o que aprendi. Não seria inteligente passar a vida estudando e nunca entrar de férias.