domingo, 6 de janeiro de 2013

Sem Noção

Eu sou uma tonta. Mexe e vira apronto uma. Nunca acreditei em loterias, mas últimamente ando experimentando novos comportamentos. Na véspera de Natal passei na lotérica do shopping e peguei um monte de cartelas, de jogos variados, para fazer em casa. Cheguei, me coloquei à vontade, li as regras atrás e comecei a marcar. Primeiro pensamento insensato:" afinal isso é apenas um jogo e deve ser baratíssimo. Porque marcar apenas o mínimo e perder a chance de ganhar?" Peguei todas as cartelas e marquei o máximo de números possíveis em cada uma e fui feliz fazer os jogos. Primeiro obstáculo, uma fila quilométrica, o que achei perfeito, porque tinha mais chance de puxar conversa com as simpáticas pessoas que ali estavam. Conversa vai, conversa vem, chega minha vez. E a fila atrás cada vez maior. Dei os jogos para a moça e achei que ela me olhou estranho. Mas tudo bem, ela talvez me conhecesse de outro lugar. E tome a fazer cálculos e me olhar esquisito. Quando terminou, perguntou se eu tinha certeza que queria jogar aquilo. "-Claro, meu bem! Se estou aqui na fila!" falei já abrindo a carteira e tirando vinte reais. E ela: "-Tem certeza?". A fila crescendo e eu: "-Não estou entendendo, quanto tenho que pagar?". Aí veio a bomba; vinte e quatro mil e não sei quantos reais. Fecha o pano para minha carreira e a risada da moça do caixa. Nunca mais me meto no que não entendo. É o que sempre digo até a próxima bobagem.

Cumplicidade

Por trinta e seis anos fui casada com um homem que não conhecia o sentimento de lealdade e de comprometimento. Essas características que são fortes em mim e que eu cultivo por toda vida, para ele significavam nada. Os "amigos" sempre estavam em primeiro lugar, mesmo aqueles que tentavam me seduzir pelas costas dele. As mulheres fúteis tinham mais importância. Não me defendia, não me apoiava, não me incluía. Eu vivia para a família e não podia contar com o companheiro com quem eu planejava envelhecer. Só para exemplificar, quando morávamos em Cuiabá/MT, ele viajou para Brasília dizendo que era a serviço, eu arrumei a sua mala como sempre, porque ele não sabia combinar nada com nada, beijei-o e desejei boa sorte. Alguns anos mais tarde um amigo dele fez questão de me contar, com um sorriso de superioridade, que ele tinha viajado para ser padrinho de casamento dele e com outra mulher. Eu não havia sido nem mesmo comunicada. Muitas dessas aconteceram enquanto eu ficava em casa. Curioso é que ele sempre me dizia que os amigos eram "irmãos", no entanto quando surgiam as dificuldades era sempre eu a estar por perto. Quando foi acometido de um tumor no cérebro e ficou inválido por seis anos, os "irmãos" e as "amigas" desapareceram e eu fiquei sozinha com toda a responsabilidade nas costas. Ninguém apareceu para trocar-lhe uma fralda, eu fazia tudo pessoalmente, com carinho e desvelo. Hoje sei que mereço o mesmo tratamento que dou e nunca mais aceitarei alguém que não pense e aja como eu.