segunda-feira, 7 de junho de 2010

Folia de Reis Fantasma

Eu me lembro assim e minha mãe confirma. Lá pelos meus cinco ou seis anos, quando morávamos numa fazenda no fim do mundo, aconteceu um fato que até hoje me intriga. Não tínhamos vizinhos muito próximos e havia um caseiro chamado Alvino, que vivia numa casa construída numa clareira atrás da nossa. Havia uma estradinha que ladeava a nossa casa, atravessava uma pequena ponte e saía em frente à dele. Sendo assim, o único acesso era através da nossa, e só havia uma estrada para chegar à fazenda. Minha família era presbiteriana, portanto, na época de Reis, os Grupos de Folia não nos visitavam. Um dia, meu pai e Alvino viajaram para algum negócio, e ficamos na casa principal minha mãe e eu, e na outra, a esposa dele Vanda (que ajudava nos serviços domésticos) e o filhinho pequeno. Nessa noite específica, havíamos acabado de nos recolher, quando começamos a ouvir o barulho de uma Folia de Reis que se aproximava. Até hoje a cantoria, o toque dos instrumentos, o barulho dos cavalos, são nítidos em minha mente. Minha mãe se apavorou porque todos sabiam que éramos "crentes", meu pai não estava em casa e ela não estava preparada para servir comida e bebida para uma Folia que parecia ser grande. Eu, curiosa como toda criança, queria abrir a janela para vê-los e minha mãe impediu, argumentando que assim teríamos que deixá-los entrar. Nisso ela ficou aliviada, pois eles não pararam e seguiram a estradinha lateral, em direção à outra casa, o que era estranho, embora eles fossem católicos. Passados alguns minutos fez-se um silêncio repentino e logo depois a Vanda começou a esmurrar a nossa porta pedindo pelo amor de Deus que minha mãe abrisse a porta. Lembro-me como se tivesse acontecido ontem, dela entrar correndo com o filho no colo, pele totalmente pálida e de olhos assustados. Pediu que minha mãe fechasse a porta depressa e com a voz estrangulada de medo disse que ouviu o mesmo que nós e estranhou que fossem à nossa casa; depois percebeu que tomavam a direção de sua casa e ficou preocupada por não poder recebê-los com as devidas regalias. Mesmo assim, quando pararam no pátio da frente, achou que devia oferecer pelo menos um café. Estavam cantando e tocando quando ela abriu a porta. Mas não havia nada nem ninguém, apenas o luar e o silêncio.

2 comentários: