sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Eu, Marta Jackson

Últimamente tenho descoberto muitas coisas sobre mim. Agora descobri que sou branca. OK, pensam que estou brincando? não, é sério. Minha mãe costumava me chamar de mulata, principalmente quando estava me repreendendo. E não sei que mecanismo mental fez com que eu acreditasse que isso era verdade. Tal como as anoréxicas, eu me olhava e "via" uma pele escura. Passei a vida comprando coisas baseada na minha cor fictícia. Dizia para as vendedoras que tal cor não ficava bem para pessoas escuras como eu e não percebia que o riso delas era uma adesão ao que elas pensavam ser uma brincadeira. Outras ficavam irritadas e eu não notava que achavam que eu estava escarnecendo da cor delas, pois eu nos achava da mesma cor. Recentemente acordei, porque pela primeira vez resolvi comprar uma base para o rosto, coisa que eu nunca havia usado. Cheguei na loja, fui direto ao setor e usando a parte interna do punho, escolhi uma base bem escura. Uma vendedora se aproximou e perguntou se eu estava comprando para outra pessoa e quando respondi que era para mim, ela fez cara de espanto e falou que eu jamais poderia usar aquela cor, pois era muito clarinha. Ri, achando que ela brincava comigo, quando ela escolheu outra e aplicou no meu antebraço. Surpresa, percebi que ficou perfeita. Nesse instante foi como se uma luz se acendesse e pela primeira vez eu me enxerguei tal qual eu sou. Ainda estou me acostumando com minha vida de branca, dando alguns foras, como hoje ao pedir a uma vendedora um short amarelo "porque nós os negros gostamos muito de amarelo" e vendo o sorriso amarelo dela. Não sei explicar esse fenômeno, porque não sou psicóloga, mas posso garantir que é verdadeiro.

Um comentário:

  1. A real percepção de quem ou como somos não é fácil. Principalmente quando associadas a problemas emocionais, a auto percepção, nos traz mais problemas ainda, até que seja compreendida, reavaliada e bem utilizada.

    ResponderExcluir