quarta-feira, 28 de abril de 2010

Receita de Mulher

Gosto demais deste poema de Vinicius de Moraes. No entanto, como é um pouco extenso, quero dividir com vocês, pelo menos a última parte.
"...
Que a mulher seja em princípio alta
Ou caso baixa, que tenha a altitude mental dos altos píncaros
Ah, que a mulher dê sempre a impressão de que se fechar os olhos
Ao abrí-los ela não mais estará presente
Com o seu sorriso e suas tramas
Que ela surja, não venha, parta, não vá
E que possua uma certa capacidade de emudecer súbitamente e nos fazer beber
O fel da dúvida. Oh, sobretudo
Que ela não perca nunca, não importa em que mundo
Não importa em que circunstâncias, a sua infinita volubilidade
De pássaro; e que acariciada no fundo de si mesma
Transforme-se em fera sem perder sua graça de ave; e que exale sempre
O impossível perfume; e destile sempre
O embriagante mel; e cante sempre o inaudível canto
Da sua combustão; e não deixe de ser nunca a eterna dançarina
Do efêmero; e em sua incalculável imperfeição
Constitua a coisa mais bela e mais perfeita de toda a criação inumerável."

domingo, 25 de abril de 2010

"Serial Killer"de Gatos

Hoje, quando acordei, tive um "insight"; deve existir alguém por aí pensando que sou uma cruel assassina de gatos, logo eu que os amo tanto. Quando morávamos em Cuiabá, tínhamos uma casa enorme, com um lindo jardim de plantas ornamentais e frutíferas. Um dia apareceu por lá um gato de rua, com presas enormes e visíveis sinais de longos anos de luta pela sobrevivência. Veio com jeito de que moraria conosco, embora extremamente arisco. Como entendo a psicologia felina, pedi que ninguém tentasse tocá-lo, apenas que fosse bem alimentado. Quem conhece o sabor da conquista por merecimento pode entender a alegria que senti quando um dia, enquanto estava sentada na varanda, ele veio sutilmente, esfregou-se em minhas pernas e concedeu-me o privilégio de alisar as suas costas. Em poucos dias nós o encontramos morto. Resolvi enterrá-lo debaixo de uma frondosa mangueira. Logo começaram a aparecer gatos vira-latas idosos ou muito doentes, que transformaram minha casa num asilo. Eram cuidados até a morte e fiz da sombra da mangueira um cemitério. Quando nos mudamos de lá, tive o desprazer de ver todo o jardim arrancado, inclusive a bela mangueira, pois os novos donos não gostavam de plantas. Hoje fiquei imaginando a reação deles se encontraram um monte de esqueletos de gatos enterrados no mesmo lugar. É possível que tenham pensado que eu matava os gatos que entravam na minha casa, quem sabe em rituais macabros!...Credo!...

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Agnosticismo

Nasci em família protestante, mais precisamente presbiteriana. Estudei sempre em colégio católico. Criança li toda a Biblia, impulsionada pelo imenso desejo de decifrar aquilo que as religiões não podiam me explicar. Assim, além das religiões mencionadas, pesquisei profundamente o espiritismo, li sobre o budismo, o islamismo e todas as seitas e segmentos que abordavam o assunto. Só depois dos cinquenta anos tornei-me agnóstica e interrompi a frenética procura. Descobri que só posso saber com certeza de duas coisas: 1-existe uma força suprema que rege todo o universo; 2-sou tão pequena que nunca vou alcançar os seus mistérios. Portanto, resolvi que cabe a mim apenas viver cada momento, seguindo a ética da minha consciência, que não por acaso, coincide com os princípios básicos de todas as religiões. Acho que a dor extrema me ensinou isso. Finalmente serenei.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Madrugadas Tragicômicas

Meu amado sofre (também) do Mal de Parkinson. A doença já está num estágio avançado. Não sei se por ela ou por efeito colateral do remédio, ou porque o sonambulismo da juventude voltou de uma forma diferente, as nossas madrugadas são agitadas. Vou contar o roteiro da noite que passou. Pouco depois das três horas ele me acorda e diz carinhosamente: -Bom dia, meu amor! Como tenho dificuldade em recuperar o sono, ainda estou acordada, quando novamente sou tocada e ouço: -Boa noite, meu amor! Um pouco mais tarde e já insone, ouço a pergunta: -Hoje é segunda ou terça? Respondo: -É segunda, meu bem! Daí a pouco ele me pede para fazer "conchinha", um hábito que cultivamos durante todos esses mais de trinta anos, mas de manhã, não às quatro e pouco da madrugada. Me encaixo, e enquanto ele ressona e balbucia, eu espero o dia amanhecer e faço o *jogo do contente*; que bom que ele está vivo para fazer isso! Depois do almoço eu durmo!

A Avó Que Subiu no Telhado

Imaginei que todo mundo conhecia a história do *gato que subiu no telhado*. No ano passado, depois de receber um telefonema de uma cunhada que mora em Belo Horizonte, liguei para minha filha Carol:
-Ôi filha, tudo bem? Pois é, eu tenho uma notícia para te dar, que infelizmente não é muito agradável;
-Credo, mamãe, o que aconteceu? Papai está bem?
-Não se preocupe, ele está bem, mas a sua avó, a mãe dele(não disse o nome, porque as duas avós são homônimas), subiu no telhado;
-O quê? mamãe, você está bem? Como a vovó, com mais de noventa anos e na cadeira de rodas ia subir no telhado?
-Na verdade, depois eu ia dizer que ela caiu do telhado!
-Agora eu que estou cada vez mais preocupada com você. Como vovó ia cair do telhado se ela nem mesmo consegue subir?
Então percebi que eu fui infeliz na escolha da abordagem e contei sem anestesia, que a avó havia
falecido. Essa é Marta, bem intencionada, mas nem sempre bem sucedida.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Caroço de Manga

A muitos anos atrás, contratei uma empregada doméstica de 19 anos, boa aparência, talvez com a cintura um pouquinho grossa. Usava shorts curtos com camiseta, trabalhava normalmente, embora dormisse muito. Havia um moço bonito que ocasionalmente a visitava e os dois sentavam-se na varanda e cochichavam muito. Sem intimidades aparentes. Quando perguntei, disse-me que tratava-se do padre da paróquia dos seus pais, que quando vinha à cidade passava para saber e dar notícias e conselhos. Achei bonito. Passados quatro meses, numa tarde a moça começou a passar mal, porque de acordo com ela, tinha problemas no fígado e tinha comido uma manga verde. Sugeri uma ida ao hospital, que ela não aceitou, dizendo que para isso costumava tomar elixir paralguma coisa. À noite acordei com barulho na cozinha e fui ver. Encontrei-a tomando o tal elixir, com uma mancha molhada na roupa. Corri a chamar o meu marido para levá-la urgente ao pronto socorro, pois eu achava que a "pobrezinha" estava com tanta dor que tinha feito xixi na roupa. Ele levantou-se de pronto e levou-a sob veementes protestos. Lá, após exames, disseram que iam fazer uma lavagem estomacal e no outro dia estaria liberada. Imaginem a nossa surpresa quando meu marido foi buscá-la e a enfermeira, com um sorriso sarcástico, comunicou que ela havia sido transferida para a maternidade, porque tinha tido um "caroço de manga" de 52 cm, e, surpresa!... estava vivo e gozava de excelente saúde. Só comigo essas coisas acontecem!